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Esta é uma história de casamento e dinheiro em um apartamento de 16 cômodos e 6 banheiros no mundo dos imóveis de luxo em Manhattan, na cidade de Nova York.
Começa dentro das paredes douradas do edifício 740 na Park Avenue. Construído em 1929 por um avô de Jacqueline Kennedy Onassis, esse edifício de 19 andares é moradia dos fabulosamente ricos: os que têm pelo menos US$ 100 milhões líquidos (cerca de R$ 235 milhões).
Por trás das pesadas portas de bronze residem bilionários como o industrial David Koch; Ronald Lauder, da família que controla a Estée Lauder; e o financista Stephen Schwarztman.
Foi a esse mundo que Elizabeth e Kent Swig foram admitidos na alta temporada das finanças. E não foi surpresa para ninguém que os Swig galgassem tamanhas alturas: o casamento dos Swig, em 1987, havia unido dois dos grandes clãs imobiliários norte-americanos: os Macklowe, de Nova York, pelo lado da noiva, e os Swig, de San Francisco, pelo do noivo.
Quando o casal chegou ao edifício, em 2002, Kent Swig, um negociador carismático com um jeitão jovem de surfista, já estava começando a criar fama, combinando ousadia nas operações e medo algum de assumir dívidas.
Logo passou a ser visto como um dos responsáveis pela transformação do distrito financeiro em endereço residencial da moda. Em um negócio onde crédito rotativo está sempre disponível e uma nova grande transação está sempre a ponto de surgir, crescer parecia ser o único caminho.
No pico do mercado, as propriedades de Swig atingiam com facilidade US$ 3 bilhões (cerca de R$ 7 bilhões).
E foi então que o banco Lehman Brothers faliu e o mercado desabou, e a vida dos Swig também foi demolida, em uma versão bilionária da crise na habitação norte-americana.
Os credores exigiram o pagamento de empréstimos. Kent Swig havia oferecido patrimônio pessoal como garantia para US$ 116 milhões em dívidas. Processos judiciais começaram a surgir. Um sócio bateu nele com um balde de gelo.
Uma noite em 2009, com a situação chegando ao ponto de ruptura, Elizabeth Swig encontraria o marido caído, bêbado, no chão de um dos quartos, segundo seu depoimento à polícia. Ela disse que ele estava "enraivecido": "Havia gesticulado como que para me agredir".
Um advogado de Kent Swig negou que o marido tivesse feito qualquer coisa que justificasse a presença dos policiais.
Amigos e associados dizem que Elizabeth culpava o marido por tudo - os prejuízos financeiros, o embaraço social, o vaso de cristal Murano quebrado.
E não demorou para que o impensável viesse a acontecer, no edifício 740 Park Avenue: começou a circular a notícia de que os Swig seriam despejados de seu apartamento porque a hipoteca sobre ele estava sendo executada.
Liz e Kent Swig, os dois agora com 53 anos, haviam chegado à idade do divórcio. O dúplex do casal foi colocado à venda no mês passado pela Brown Harris Stevens, a imobiliária de luxo controlada por Swig, ao preço de US$ 32,5 milhões (cerca de R$ 76 milhões).
A casa dos Swig em Southampton, em Long Island, com sete quartos e de frente para o mar, também está no mercado, ao preço de US$ 26,5 milhões (cerca de R$ 62 milhões).
Não existem divórcios felizes, mas este põe fim ao relacionamento de negócios entre os Macklowe e os Swig. E embora o divórcio, especialmente para as pessoas com grande patrimônio, possa ser um negócio cruel, o mercado imobiliário de Nova York é ainda pior: Kent Swig alega que Harry Macklowe conspirou para arruiná-lo financeiramente, uma alegação que seu sogro nega.
A ASCENSÃO
Em uma noite de fevereiro de 2007, os convivas chegaram à parte sul de Manhattan para um evento no estilo criado pela alta do mercado imobiliário. O edifício The Exchange, projeto de Kent Swig no número 25 da rua Broad, era a mais recente joia em sua coleção –um edifício de escritórios construído em 1902 que ele estava convertendo em apartamentos de luxo.
Naquela noite, a base do edifício –uma camada de granito rústico que alguns metros acima se convertia em paredes de tijolos claros, com acabamento em terracota– estava banhada em luz púrpura, a cor que marcava os projetos da Swig Equities, a imobiliária de Kent Swig.
Àquela altura, o mercado imobiliário já estava começando a esfriar, mas dentro do edifício a cena era quente. Partes do grandioso saguão, que tem 5,40 metros de altura e um teto curvo, bem como piso de mármore, estavam recobertas de carpetes púrpura com anéis laranja. Um apartamento modelo, o "cantinho do músico", tinha tapetes de pele de cavalo e uma coleção de guitarras clássicas. No escritório de vendas, havia retratos de Liz e Kent Swig posando como se fossem o casal real, com placas descrevendo suas vidas fabulosas –os quadros foram destruídos, mais tarde, quanto um cano estourou.
Kent Swig havia atingido esse elevado patamar da maneira tradicional: por herança. Ele é neto de Benjamin Swig, que começou a construir uma dinastia imobiliária na era da Grande Depressão, em sociedade com Jack Weiler. No seu pico, as propriedades de Benjamin Swig incluíam participações no edifício W. R. Grace, em Manhattan, dezenas de edifícios de escritórios, de San Francisco a Washington, e a luxuosa cadeia de hotelaria Fairmont Hotels.
Kent Swig não pretendia trabalhar no negócio da família. Estudou História da China na Universidade Brown, onde também competia em saltos ornamentais, e depois se formou em Direito, com o plano de se especializar em leis internacionais. Mas quando seu pai, Melvin Swig, teve um diagnóstico de câncer, na metade dos anos 80, Kent assumiu o comando dos negócios da família. No final daquela década, se mudou para Nova York, onde logo começou a trabalhar para Harry Macklowe, com quem os Swig já haviam cooperado em diversos projetos.
Diz-se que Macklowe gostou tanto do jovem funcionário que decidiu apresentá-lo à sua filha única, Liz. Na noite em que eles deveriam ter se encontrado, os dois cancelaram o encontro, mas acabaram se conhecendo por coincidência, horas mais tarde, no Saloon, um restaurante que já fechou, perto do Lincoln Center. Passados 15 dias, estavam noivos.
Kent Swig estava a caminho do sucesso. Sua primeira grande jogada aconteceu no começo dos anos 90, quando sua empresa formou uma sociedade com Arthur e William Lie Zeckendorf, membros de outra dinastia imobiliária de Nova York, para comprar a Brown Harris Stevens, uma imobiliária que enfrentava uma crise na época. Poucos anos depois, os sócios adquiriram também a Halstead Property.
Os negócios não paravam de surgir. Em 2003, Swig comprou o 5 Hanover Square, um edifício a cinco quarteirões da bolsa de Nova York, por US$ 52 milhões. No ano seguinte, comprou mais três edifícios na mesma região da cidade, por um total combinado de US$ 300 milhões.
"Vi a maior oportunidade de minha vida e comprei todos os imóveis que pude", ele diria mais tarde à revista "Real Deal".
Swig afirmou que sua aposta nas perspectivas residenciais do bairro financeiro ou o faria parecer um gênio ou "vai me deixar com muita cara de idiota".
Mais ao norte em Manhattan, ele estava realizando uma aposta igualmente grande no edifício Sheffield. Em 2005, em sociedade com Serge Hoyda e Yair Levy, a companhia de Swig pagou US$ 418 milhões, preço recorde na época, por um edifício de 50 andares para locação na rua 57 Oeste. Os três planejavam converter os apartamentos de aluguel em unidades para venda. Os moradores do edifício reagiram assim que souberam do plano, irritando Swig. Quando um grupo de moradores se reuniu para um protesto, ele contratou uma fanfarra para abafar suas vozes.
Swig também adquiriu a Helmsley Spear, outra renomada imobiliária da cidade. Isso serviu para causar problemas em seu relacionamento com os irmãos Zeckendorf, que acreditavam que a nova aquisição era concorrente direta da Brown Harris Stevens –um porta-voz dos irmãos disse que "jamais houve desentendimento" entre eles e Swig.
Hoje, muitos especialistas em imóveis dizem que Swig demorou demais a sair da festa imobiliária, e que pagou caro demais por muitos dos edifícios que adquiriu. Ele também tomou empréstimos pessoais junto a bancos, companhias de investimento privado e outras instituições financeiras, para bancar suas participações pessoais em projetos.
"Durante o boom, de 2003 a 2006, ele estava se saindo muito bem", diz Jonathan Miller, consultor e avaliador imobiliário. "Mas continuou a fazer negócios quanto o estrago já estava acontecendo no mercado".
Um porta-voz de Swig define essa avaliação como "imprecisa", afirmando que a estratégia de Swig tinha por base "aquisições oportunistas" em ambientes "de mercado em queda", como ele havia demonstrado no distrito financeiro.
Não importa que versão seja a correta, Kent e Liz estavam vivendo muito bem; surfando na Austrália e, em casa, oferecendo festas a artistas ascendentes como Gary Hume. Liz Swig participava de eventos de arrecadação de fundos e bailes de gala em companhia de Donatella Versace e de Allison Kanders, patrona das artes.
A QUEDA
Os riscos eram suficientemente claros, em retrospecto. Pela metade de 2007, os tremores no mercado de hipotecas subprime (de alto risco) haviam atingido Wall Street. Os bancos começaram a sair do mercado, mas Kent Swig decidiu continuar operando, e para isso obteve um empréstimo pessoal de US$ 21,1 milhões, que ele imaginava que poderia pagar rapidamente, junto a uma companhia de investimento chamada Square Mile. Ele acreditava que os sócios da empresa tomariam as providências necessárias a converter o empréstimo em uma participação preferencial no capital do projeto Sheffield, de acordo com documentos judiciais.
Mas o projeto provou ser um desastre. Os inquilinos do Sheffield se recusavam a deixar seus apartamentos. As vendas das unidades reformadas eram medíocres. Havia processos voando para todos os lados, e também imensos estouros de custos –obras que Swig estava supervisionado e que estavam sendo realizadas por sua construtora.
Os sócios dele no projeto, Levy e Hoyda, estavam começando a se preocupar com a possibilidade de que Swig estivesse desviando dinheiro da construção para bancar despesas pessoais, de acordo com um processo que abriram posteriormente. Em setembro de 2008, durante uma reunião no escritório do advogado de Swig, Levy ficou tão irritado que bateu na mão e ombro direitos de Swig com um balde metálico de gelo. Levy mais tarde se admitiria culpado de assédio e seria sentenciado a dois dias de serviços comunitários.
Swig estava começando a se sentir pressionado. Ele obteve mais de US$ 30 milhões em empréstimos, oferecendo o duplex da Park Avenue e a casa dos Hamptons como garantia. E então o Lehman estourou, no final de 2008. Ainda naquele ano, a Square Mile abriu processo contra Swig, solicitando pagamentos de US$ 28 milhões.
Kent Swig se sentiu traído. Ele argumentou que os sócios da Square Mile haviam decidido, com a piora dos mercados, que estariam em "melhor posição" caso mantivessem o acordo entre eles na forma de empréstimo, em lugar de convertê-lo em participação de capital em um edifício cujo valor estava despencando, ele alegou em documentos judiciais.
Além disso, argumentou Swig, a Square Mile estava buscando um "índice exorbitante de retorno", com taxa de juros de 24%. E ele logo seria alvo de outros processos, entre os quais um aberto pelo Lehman. O Lehman alegou que a Swig Equities estava em atraso quanto a centenas de milhões de dólares em pagamentos relacionados a dois edifícios, incluindo o Exchange. Poucos meses mais tarde, a Square Mile obteve uma decisão de US$ 32 milhões contra Swig, e agiu rapidamente para receber o dinheiro.
Quase instantaneamente, Swig se transformou em um homem rico em propriedades mas pobre em dinheiro. Ele não tinha nem como pagar seus médicos, seus advogados ou as hipotecas das casas de sua família, detidas pelo Bank of America.
"As coisas estavam se desmantelando. Não tínhamos dinheiro, não estávamos pagando o pessoal", disse um antigo executivo da Helmsley Spear, que Swig fechou em 2010, dois anos depois de adquiri-la. As contas começaram a se acumular, e Swig passou a trabalhar em um pequeno escritório em um andar separado na sede da Swig Equities, disse essa fonte, que pediu que seu nome não fosse revelado porque continua a trabalhar no setor imobiliário. "Nós todos sabíamos que ele estava só se escondendo".
Pelo final de 2009, Swig tinha US$ 200 mil em contas atrasadas junto aos seus advogados. Recorreu aos Macklowe. A promissória que assinou naquele dia tinha um cláusula incomum: os Macklowe concordavam em não encorajar ou apoiar qualquer esforço para forçá-lo a uma falência involuntária.
No mesmo dia em que recebeu o empréstimo do sogro, Kent Swig assinou um acordo pós-nupcial com a mulher. Em caso de divórcio, Liz ficaria com as duas casas, e ele assumiria a responsabilidade pelas dívidas lastreadas por elas. Ela também ficaria com quase US$ 12 milhões em obras de arte, entre as quais peças de Jeff Koons e Takashi Murakami.
Liz Swig também seria a proprietária única de US$ 1,8 milhão em joias e US$ 11 milhões em mobília e outros itens, entre os quais um cinzeiro em forma de porco avaliado em US$ 1.000 e um par de castiçais Albert Cheuret, de 1925, avaliado em US$ 100 mil.
Cinco meses mais tarde, em março de 2010, Kent Swig pediu o divórcio. E logo Harry Macklowe começou a violar a promessa que havia feito ao conceder o empréstimo ao genro, alega Swig em processo judicial.
A GUERRA
Estava caindo água pelo teto do apartamento 2/3 D. Era o dia 1º de março de 2012 e a máquina de lavar do apartamento de cima estava causando um vazamento no apartamento dos Swig. A conta pelo estrago ficou em US$ 270 mil, de acordo com documentos judiciais.
Kent Swig diz que não recebeu um tostão do dinheiro do seguro. Em lugar disso, afirma, alguém falsificou seu nome em cheques a fim de saldar a dívida de US$ 200 mil que ele tinha com os Macklowe, de acordo com documentos judiciais. Kent Swig contratou um especialista em grafologia que concluiu que Harry Macklowe e sua mulher, Linda, não podiam ser "nem confirmados e nem eliminados" como autores da falsa assinatura de Swig. Os Macklowe negaram em depoimento ter falsificado a assinatura de Swig em qualquer documento.
Era guerra. O mercado imobiliário de Nova York estava se recuperando e muitos outros empresários estavam curando suas feridas e se preparando para recuperar o terreno perdido, mas Kent Swig estava envolvido em múltiplos processos, e lutando para manter os resquícios de seu império.
O drama capturou a atenção dos círculos imobiliários nova-iorquinos.
"As pessoas achavam que estavam vendo um novo Harry Macklowe", diz um antigo associado sobre Kent Swig, falando sob a condição de que seu nome não fosse mencionado porque os dois frequentam os mesmos ambientes. "Mas isso de forma nenhuma era o caso".
Muita gente mal consegue acreditar que Swig tenha evitado a falência. Mais de dois anos atrás, depois de meses de pressão e disputas entre seus credores, ele chegou a um acordo, concordando em pagar suas dívidas até o segundo trimestre deste ano sob pena de perder seus ativos restantes, que incluem participações em alguns edifícios. Ele pagou cerca de metade do principal da dívida, e "não há hipótese de venda forçada de ativos", de acordo com o porta-voz de Swig.
Kent Swig, respondendo a perguntas por e-mail, disse que se arrepende de muita coisa. Já Liz Swig e os Macklowe se recusaram a comentar.
"Fiquei financeiramente exposto em base pessoal, situação que infelizmente eu mesmo criei", ele escreveu.
Swig parece estar deixando seus problemas judiciais no passado. Nos últimos dias, ele encerrou por acordo o processo que Hoyda e Levy moviam contra ele por conta do projeto Sheffield, que se tornou um sucesso financeiro. Os detalhes não foram revelados, mas um advogado de Swig disse que seu cliente poderia "fazer pagamento substancial aos credores", com sua parte dos proventos.
No jogo dos imóveis, fortunas são construídas, destruídas e ocasionalmente reconstruídas. Swig, disse seu porta-voz, "está, no momento, em busca de oportunidades imobiliárias para investir e desenvolvê-las."
Tradução de Paulo Migliacci