América Latina não deve responsabilizar reformas por crise
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10/03/2002 | 14h49 | www1.folha.uol.com.br
10/03/2002
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14h49
América Latina não deve responsabilizar reformas por crise
da Reuters, em Fortaleza
Apesar do crescente descontentamento da população, a América Latina não deve culpar as reformas estruturais que marcaram a última década pelos problemas políticos e econômicos que hoje alguns países da região, especialmente a Argentina, enfrentam, segundo opinam especialistas reunidos em Fortaleza (CE).
A discussão sobre os prós e contras das reformas nos países latino-americanos foi tema de um dos vários seminários que antecedem a 43ª reunião anual do BIC (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que começa oficialmente nesta segunda-feira, na capital cearense.
O colapso da economia da Argentina, um dos países que mais avançaram nessa área na região, trouxe à tona a discussão sobre se medidas como privatização, liberalização do comércio e reforma financeira realmente se traduziram em ganhos para as nações, até hoje incapazes de garantir um crescimento sustentado.
A crise na América Latina não deriva de forma alguma das reformas,'' disse Eliana Cardoso, ex-integrante do Ministério da Fazenda e hoje professora visitante da Universidade de Georgetown, em Washington, em referência à turbulência na região por conta da crise argentina, há quatro anos em recessão, ao confronto da Colômbia com a guerrilha e aos problemas na Venezuela.
Eliana Cardoso fez uma defesa contundente das reformas, embora tenha notado que muitas delas ainda estejam incompletas, como é o caso das reformas tributárias na maior parte da América Latina.
Um estudo do assessor econômico do BID, Eduardo Lora, mostrou que os latino-americanos estão crescentemente insatisfeitos com os resultados das reformas dos anos 1990, ainda que as medidas pró-mercado tenham contribuído para alavancar o crescimento no período.
De acordo com uma recente pesquisa de opinião pública feita em 17 países, dois de cada três latino-americanos acreditam que as condições econômicas estão ruins ou muito ruins; apenas um em quatro acredita que a economia vai melhorar no futuro; e três em cada quatro acham que a pobreza aumentou nos últimos cinco anos.
Segundo Lora, as reformas foram positivas para o crescimento, mas seu efeito foi modesto e transitório e podem levar a uma instabilidade macroeconômica, além de deteriorarem a distribuição de renda.
A economia da região teve um crescimento médio de 3,3%na década de 90, segundo Lora. No ano passado, por causa dos diversos choques que atingiram a economia mundial como os ataques de 11 de setembro aos Estados Unidos, a economia latino-americana deve ter crescido apenas 0,5%, segundo estimativas do BID.
Para Andrés Velasco, professor da Universidade de Harvard, é prematuro afirmar que as reformas tiveram um efeito aquém do desejado.
As reformas são muito recentes e a qualidade de informações e estatísticas que temos sobre seus efeitos é muito limitada,'' disse ele. No longo prazo nós devemos ser mais otimistas.''
O ex-ministro da Economia argentino José Luis Machinea também defende a tese de que as reformas eram absolutamente necessárias para as economias latino-americanas.
No final dos anos 90, quando o fluxo de capitais cai, as reformas passaram a ser acusadas de todos os problemas da região. A maioria das reformas era necessária e melhorou o potencial de crescimento,'' disse Machinea, reconhecendo que o problema argentino tem raiz macroeconômica.